Tem uma hora que acaba.
Tem uma hora, que o peso da frase ”Até que a morte nos separe” já não pesa tanto
assim.
Eu particularmente sempre achei essa frase muito radical, como se fossemos obrigados
a amar, pelo resto de nossas vidas, a qualquer preço aquela pessoa que
escolhemos, por acreditar, pelo menos naquele momento, que seríamos felizes
para sempre.
Você assina um papel, entra na sua igreja preferida, com aquele vestido tipo
bolo, que custou um preço absurdo, jura amor eterno e tomada pela emoção, nem
escuta direito o que padre fala, acredita que vai valer a pena, tudo o que
gastou e tudo o que enfrentou para realizar um sonho.
Voltando ao fim deste sonho, e voltando as tentativas de recuperar o que não
tem mais jeito, você insiste e se nega a ver que acabou e apela.
Uma lingerie sexy, mas que esconda aquelas gordurinhas a mais, que o tempo e
os filhos te deram um vinhozinho, ou para as mais ousadas e corajosas, vale até
uma streep tease.
Nada contra, afinal temos o direito de nos dar mais uma chance, temos o
direito de querer ter certeza do fim antes de jogar a toalha.
Pode até rolar um momento, pintar um clima... Mas no outro dia, tudo estará
igual. Ninguém toma vinhozinho segunda feira, nem faz estrepe tese em plena
quarta.
Quando acaba, a gente sempre sabe todo mundo sabe.
Mas é tão difícil admitir, e normalmente, no momento em que se percebe que
não tem mesmo jeito, está tudo tão ligado, tão embolado, há tantas coisas em
comum, que dá preguiça só de pensar, em acabar com tudo.
Sem contar que na maioria das vezes, não queremos acabar, afinal, se um dia
foi bom, pode voltar a ser, e aí continuamos tentando, nos enganando, enquanto
o tempo vai passando.
E ele passa, sem nenhuma piedade de nós.
Aí vamos colocando a culpa, na falta de dinheiro, no stress do dia a dia, na
rotina, nos filhos, que nos tomam tanto tempo, e não nos permitem mais tanta
liberdade, na casa que já é antiga, e todo dia dá um problema, no emprego seu
ou da pessoa que está com você, que às vezes se estende pelos finais de semana,
na interferência das famílias, nos sonhos de cada um.
E no auge do desespero, ainda com um fiozinho de esperança, vem a tentativa
de uma conversa. A famosa “DR”
Nossa!
Momento doloroso, sofrido, e quase sempre sem sucesso.
Os terapeutas de casais acreditam piamente neste momento, mas se realmente
estiver tudo acabado, essa tal conversa vira uma lavação de roupa suja federal,
que quase sempre termina em ofensas, em lágrimas, objetos quebrados, e em uma
dura certeza...
Não tem mesmo, mais jeito.
Enfim, eu poderia enumerar muitos motivos, que eu, com certa experiência, afinal
são 24 anos de casada, e oito de namoro, acho que dão fim a uma relação, mas
como nunca é apenas um motivo, e sim a somatória de muitos, por isso prefiro
não arriscar prefiro não arriscar.
Mas é justamente essa experiência, que me faz pensar, que nem sempre é
preciso ter um motivo.
Às vezes acaba simplesmente, assim como uma criança, que de repente, deixa
de lado, aquela boneca que a família inteira achou que ela nunca largaria.
Claro que é sofrido, claro que pinta uma sensação de fracasso, mas chega uma
hora que realmente não dá mais.
O coração já não dispara a pernas já não tremem, os preliminares ficam cada
vez mais demoradas... É triste, mas é verdade.
Forçar a barra é deprimente. Mas é preciso desembolar, o que está embolado,
é preciso olhar, e ver sem mentir, sem fugir.
O mais difícil, eu acho, é ter coragem, de seguir, sem a pessoa para quem
juramos amor eterno, é lembrar-se daquele vestido alugado, tipo bolo, que você
suou pra pagar, e ter vontade de chorar, afinal ele era tão lindo!
É ver as fotos, que aquele fotógrafo enrolado não fez do jeito que você
pediu, e aceitar a duras penas, que o tempo passou.
Aceitar que aquele sorriso da foto, nunca mais será o mesmo.
Que aquelas palavras ditas, um ao outro, no momento de selar a união, é bem
diferente das palavras que você diz hoje, e mais diferente ainda, são as
palavras que você escuta.
É se olhar no espelho, e ver que você também não é mais a mesma.
O mais difícil, eu acho, é continuar sem o amor que um dia acreditamos ser
eterno, é dizer, é crer, que acabou.
Carla Pianchão