
Hoje fiquei sabendo, porque este tipo de coisa tem sempre alguém pra contar, que algumas pessoas, em algum lugar, comentavam sobre mim.
Esta Carla...” se acha...”
Claro que no primeiro momento fiquei chateada, depois fiquei pensando...
Porra...
Eu não tenho mais 20 anos,
Não tenho mãe,
Não tenho pai,
Tenho algumas rugas,
Tirei carteira e ainda não consegui comprar meu próprio carro...
Só agora pude colocar um aparelho nos dentes,
Tenho dores na coluna,
Meu cabelo não é bom,
Tenho empregada que falta quatro dias na semana,
Moro longe,
Uso o cheque especial,
Levanto as cinco todos dias,
Trabalho até as duas da madrugada,
Aprendi patchwork sozinha, porque não tinha dinheiro pra pagar um curso,
Só consegui fazer um básico, anos depois,
Moro em um conjunto que não tem interfone,
Não tenho xícara de porcelana,
Nem toalha de linho.
Nossa!!!
Pensei mais um pouco...
Será que a culpa é do meu gato?
Do meu viés pregado a mão?
Do quilt quase perfeito?
Dos tecidinhos que eu lavo antes de usar?
Do meu trabalho, que eu adoro mostrar?
Dos detalhes?
Da feira que eu faço questão de participar?
Do meu arroz com tudo?
Da minha Maria que é linda?
Do meu João que eu amo?
Do meu cantinho que fica na minha ex-copa?
Das minhas máquinas que eu comprei uma a uma, pagando de 10 vezes?
Ou quem sabe o problema é minha marca registrada ®?
Ou serão os meus textos?
Será que são os e-mails que às vezes eu demoro a responder?
Ou quem sabe é o valor das minhas peças?
Olha, claro que os motivos que levaram e que levam algumas pessoas, que com certeza me conhecem pouco, ou quase nada, a pensarem assim, podem ser muitos.
Quando eu comecei a tentar viver de artesanato...
Eu não tinha net,
Não tinha flickr,
Não tinha blog,
Não cinco máquinas,
Não tinha dinheiro,
Meus trabalhos não tinhas selo de qualidade,
Não tinha amigos virtuais,
Não tinha comentários carinhosos,
E mesmo assim,
Eu comecei.
Eu batalhei,
Eu errei algumas vezes,
Eu não desisti.
Eu persisti,
Eu insisti,
Eu aprendi.
E por tudo isso e por mais uma porrada de pedras que eu encontrei em meu caminho,
Eu cheguei a seguinte conclusão.
Quem disse que eu me acho
Tem toda razão.
Agora,
Hoje,
Eu me acho mesmo.
Eu tenho muito ainda pra conquistar,
Mas já conquistei muito.
Se muita gente acha meu trabalho lindo,
Eu também posso achar.
É lindo mesmo.
Muito bem feito,
Muito bem acabado,
Porque eu faço com amo, com prazer,
E eu mais do que qualquer outra pessoa tenho o direito de valorizar o que eu faço.
Carla Pianchão